Movimentos sociais convocam protestos para o
próximo dia 5 contra Bolsonaro e a favor da apuração do assassinato da
vereadora
Uma mudança nas correlações políticas do país
fez com que a oposição ao Governo Jair
Bolsonaro (PSL) mudasse de posicionamento e desistisse de pedir a
federalização da investigação do assassinato da vereadora pelo Rio de
Janeiro Marielle
Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes. “Quem confia na
Polícia Federal sob o comando do ministro Sergio Moro? Eu não confio”, afirmou
o deputado federal Ivan Valente, líder do PSOL na Câmara. Quando pediu a
federalização do crime, quem presidia o país era Michel Temer (MDB).
E a Procuradoria Geral da República era comandada primeiro por Rodrigo Janot,
depois por Raquel Dodge. Ela, por fim, chegou a pedir a federalização das
apurações, que ainda não foram julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça.
Segundo Valente, a postura do atual procurador-geral
da República, Augusto Aras, não traz confiança. Aras foi conduzido ao cargo
por Bolsonaro mesmo não tendo participado da eleição interna de procuradores
que elegeu uma lista tríplice para ser analisada pelo presidente. Ou seja, para
chegar ao cargo, precisou se valer de seu contato político e da bênção
primordial de Bolsonaro (que disse ter tido “um amor à primeira vista” por
Aras).
Nesta quarta-feira, Augusto Aras e o
Ministério Público do Estado do Rio anunciaram que rejeitaram
qualquer relação entre o presidente Bolsonaro e os ex-policiais que
são acusados de assassinar Marielle e Anderson. Afirmaram ainda que a
testemunha que teria apontado essa relação, o porteiro
do condomínio do presidente, mentiu. A perícia dos áudios foi concluída
nesta quarta-feira "ou ontem", segundo o procurador-geral.
Outros opositores também reclamaram da postura
do ministro da Justiça, Sergio Moro, que seguiu uma ordem de Bolsonaro e pediu
para a PGR abrir um inquérito com base no depoimento do porteiro. Moro alegou
que a testemunha pode ter cometido os delitos de falso testemunho, denunciação
caluniosa e obstrução à Justiça. “O ministro age como advogado do presidente, o
que não e admissível”, reclamou a líder da minoria na Câmara, Jandira Feghali
(PCdoB-RJ).
Na mesma linha, seguiu o líder do PSB na
Câmara, Tadeu Alencar. “Bolsonaro não é o dono do Brasil porque ganhou as
eleições. Ele precisa respeitar as instituições. E o respeito é fazer com que
elas executem suas tarefas constitucionais”.
Em outra frente, a oposição a Bolsonaro no
Senado protocolou um pedido de criação de uma comissão parlamentar para
acompanhar as investigações do caso Marielle, também solicitou ao Governo do
Rio de Janeiro que o porteiro que depôs à Polícia Civil seja incluído no
programa de proteção à testemunha e ainda tentará convocar o ministro Sergio
Moro para depor na Comissão de Fiscalização da Casa. “Um fato que envolve o
mandatário com o maior cargo da nação precisa ser investigado detalhadamente”,
ponderou o líder da oposição Randolfe Rodrigues (REDE-AP).
Defensores de Bolsonaro minimizaram as ações
da oposição. “Todo esse escândalo foi baseado em uma fake News da
Rede Globo. As autoridades têm de trabalhar com provas, não com mentiras”,
reclamou o deputado Delegado Pablo (PSL-AM). E ainda defenderam a investigação
do porteiro que disse à Polícia Civil que um dos assassinos de Marielle e
Anderson entrou no condomínio Vivendas da Barra após ter sido autorizado por
alguém que estava na casa de Bolsonaro. “Se o Ministério Público diz que ele
mentiu, tem de averiguar. Qual foi a intenção dele de mentir? Ele foi
estimulado a mentir? A verdade há de surgir”, afirmou o líder do PSL no
Senado, Major
Olímpio Gomes.
Protestos
Estimulados pela reportagem da Rede Globo que
vinculou Bolsonaro à morte de Marielle e Anderson, movimentos sociais
convocaram para o próximo dia 5 de novembro um protesto pelas ruas do Brasil.
“O tom será elevado pelos movimentos sociais porque estamos contra toda a
política desse Governo”, afirmou o presidente da União Nacional dos Estudantes,
Iago Montalvão.
Os militantes também reclamaram de um
discurso de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente e líder do PSL na Câmara,
que ameaçou uma repressão caso o Brasil registrasse protestos como os que
ocorreram no Chile nas últimas semanas.
Fonte: El País
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