Na sabatina promovida pelo Correio, o candidato à Presidência da República pelo PDT afirma que, se for eleito, quer o MDB de Michel Temer e Romero Jucá na oposição ao seu governo
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ex-ministro Ciro Gomes (PDT) defendeu, durante
a sabatina promovida pelo Correio com os pré-candidatos à Presidência,
nesta quarta-feira (6/6), o fim de privilégios, a manutenção de estatais e a
revogação da emenda constitucional que estipula o teto dos gastos. Prometeu
sanar as contas públicas em dois anos e disse que, para isso, pretende aplicar
uma tributação progressiva sobre herança, renda e remessas ao exterior e diminuir
a carga de impostos sobre os trabalhadores e a classe média. Sobre o
concorrente Jair Bolsonaro, Ciro foi implacável: "É um boçal
desorientado. Quem vai decidir é o povo, mas, nós, os democratas, temos
obrigação de extirpar este câncer enquanto ainda pode ser extirpado",
disse.
Ex-governador
do Ceará, Ciro reiterou que é contra a atual política econômica e que sua
postura não tem poder de mexer com o mercado financeiro. “A primeira pergunta
que se faz é se está tudo bem para conservarmos as coisas como estão? O Brasil
está muito mal. A situação é terrível. A outra pergunta é o que fazer para
mudar isso? O dólar está se apreciando no mundo inteiro. Ontem, foi na
proporção de 1,5% no mundo inteiro. Não há candidato nenhum capaz de fazer
isso”, comentou.
Sobre
a Emenda à Constituição 95, que estipula um teto para os gastos conforme a
inflação do ano anterior, Ciro afirmou que revogar o dispositivo é imperativo.
“Não há precedente no mundo em se exigir um tabelamento de gastos de 20 anos.
Nascem 2,5 milhões de bebês por ano no Brasil. Eu preciso ter maternidades e
matrículas progressivas para atender este crescimento”, afirmou. “O país tem
62,5 mil homicídios em 12 meses e capacidade de investigar apenas oito em cada
100. Não vamos repor os cargos da polícia? Supondo que vamos só anualizar a
inflação, não temos como expandir os serviços. Não estou nem falando de portos
e aeroportos. Portanto, o congelamento é de uma estupidez impraticável”,
criticou.
Ex-ministro
da Fazenda do governo Itamar Franco, Ciro afirmou que pretende colocar a “sua
prática a serviço da nação brasileira”. “Não tive um dia de deficit na minha
mão e fui ministro da Fazenda e governador. Por que o mercado vai suspeitar que
não sou austero?”, indagou. O pedetista também defendeu a manutenção das
grandes empresas estatais. “Tenho segurança que o setor público pode ser
administrado com celeridade. Nós não tivemos um escândalo sequer no governo
Itamar Franco. No Ceará, a companhia de água e esgoto é estatal e dá lucro”,
ressaltou.
Apesar
de ser favorável à manutenção de estatais, Ciro afirmou não ter “nada contra
privatizações”. “O projeto nacional de desenvolvimento é que definirá o que
deve ou não ser privatizado. Agora, acho crime o Brasil privatizar o petróleo,
sendo que 80% das empresas mundiais do setor são estatais e 20% administradas
por cartéis. Portanto, poderemos influir mundialmente na política mundial de
petróleo. Nós vamos entregar para os estrangeiros em nome de quê?”, questionou.
Para
comparar, Ciro indagou se a Odebrecht e outras empreiteiras envolvidas em
corrupção eram estatais. “Vamos ter de fechar essas companhias? Em Sobral (CE),
onde fui criado, se a vaquinha que lhe dá leite, queijo e cria pega carrapato,
não se mata a vaca. Na Petrobras, vamos fazer valer um padrão de eficiência”,
explicou.
Segurança
No
tema segurança pública, Ciro Gomes reconheceu que o país vive uma crise sem
precedentes. “Não é que o país tenha falhado na gestão da segurança. Mas o
Estado brasileiro talvez não tenha entendido a gravidade da questão. O que
fazem os demagogos? Sentem que a população está com medo e impõem um aparato
militar. Hoje, o Rio de Janeiro está sob intervenção e, a pretexto de quem há
bandidos, quem mora na favela sofre os efeitos disso, enquanto o verdadeiro
chefão mora em São Conrado, em Alphaville. Precisamos criar um sistema nacional
de segurança e não empurrar isso para os estados, unificando os serviços de
inteligência”, defendeu.
Segundo
o pedetista, as inteligências do país sabem tudo. “Sabem quem são os
comandantes, mas ficam ali acanhadas. As cadeias de comando estão todas
mapeadas. O que há é uma brutal hipocrisia, porque, por regra, não se considera
razoável dissolver o narcotráfico que é financiado pelos barões que cheiram
cocaína”, sentenciou.
Para
qualificar as políticas públicas, Ciro ressaltou que o Brasil precisa,
primeiro, responder de onde sairá o dinheiro. “A lei de menor em esforço indica
aquelas práticas em linha com o que ocorre em nível internacional, que é manter
o rentismo (mercado financeiro) remunerado”, disse. A sua política, no entanto,
pretende tributar mais as remessas de lucros. “O Ceará tributa em 8% que é o
limite da constituição. É um estado paupérrimo, mas tem conseguido números
excepcionais com políticas públicas. Triplicou o efetivo policial em dois
anos”, comparou.
Rejeição
Ao responder se, ao buscar os votos do ex-presidente Lula, não temia aumentar sua rejeição, Ciro lembrou que o PSDB e o PT foram as duas melhores crias da democracia e tinham obrigação de cooperar, mas acabaram se enfrentando, produzindo uma briga entre mortadelas e coxinhas. “Agora todo o mundo é obrigado a replicar isso. Mas é preciso deixar claro que o líder do governo Fernando Henrique Cardoso era Jucá (senador Romero, do MDB). O líder do governo Lular era o Jucá. E da Dilma, era o Jucá. Deu certo? Ladrão do MDB vai me fazer oposição”, bradou.
Para
Ciro, é uma mera “constatação” que o modelo da política brasileira passa por
uma quadrilha. “Precisamos experimentar outro caminho”, alegou. “Sou
ex-congressista, fui o deputado federal mais votado do Brasil no pior momento,
com Temer e Cunha (Eduardo, ex-presidente da Câmara dos Deputados) batendo
bola. Um já está na cadeia e o outro vai. E o Ciro é que tem temperamento. Ora,
por elegância vamos deixar tudo isso acontecer? Com brasileiros morrendo? Isso
é medo de quem tem rabo de palha, que quer acordo. Eu não pertenço à máfia. Não
podem dizer que sou picareta, nunca respondi por corrupção nem para ser
absolvido”, assinalou.
Congresso
Questionado
sobre como pretende governar, uma vez que o PDT não é um partido que tenha
maioria no Congresso, Ciro não demonstrou preocupação. "Desde o general
Dutra (Eurico Gaspar Dutra, presidente de 1946 a 1951), todos os presidentes
brasileiros se elegeram com minoria no Congresso. Fernando Henrique não fez
reforma, porque não tinha proposta. Passou o primeiro ano tentando passar a
reeleição e aumentou a carga tributária”, afirmou.
Sobre
a autonomia do Banco Central, Gomes disse que a autoridade monetária defende
interesses do Itaú e do Unibanco. "Nós vamos perseguir a menor inflação
com pleno emprego. Com um olho no gato e outro no peixe. O FED (Federal
Reserve, banco central norte-americano) funciona assim”, argumentou. Ele
criticou, ainda, tarifas de serviços públicos, como energia e combustíveis,
congeladas. "A tarifa de energia num país como nosso deve ser calculada
com base no custo de produção, remuneração de imobilizado, amortização e
depreciação e lucro, em linha com competidores concorrenciais, se houver. Se
não, com planilha de custos em linha com mercado”, disse.
Diante
da crise de abastecimento, provocada após a greve dos caminhoneiros, que
protestaram contra os altos valores cobrados pelos combustíveis no Brasil, o
candidato do PDT disse que Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, e o
presidente Michel Temer, adotaram uma política errada para os combustíveis.
"Deixaram 30% da capacidade de refino parada no país, vendendo petróleo
bruto e importando gasolina refinada”, criticou.
"Hoje,
30% da capacidade instalada da indústria estão ociosos, então a inflação não
foi por demanda excessiva. Não adianta subir juros e encarecer o crédito para
combater essa inflação. O governo subiu a energia, aumentou o gás de cozinha em
90%, empurrando 1,5 milhão de famílias a usarem lenha novamente, e botou o
litro da gasolina a R$ 5. E a inflação é de 2,56%”, comentou. "Isso
só ocorre porque a economia está indo para o vinagre. Estamos destruindo
empresas. Em 1980, 30% da riqueza era da indústria, hoje são 11%. A indústria
chinesa cresceu nesse período. Quem está certo, eles ou nós?”, acrescentou.
Previdência
Ciro
Gomes alertou que a reforma da Previdência proposta pelo governo economizaria
R$ 360 bilhões em 10 anos. "Só o deficit do ano passado foi de R$ 180
bilhões. Que reforma é essa, com a perversão de empurrar mais dez anos de
trabalho aos trabalhadores, sem mexer nos privilégios?. A lógica do sistema de
repartição é juventude demográfica e alta formalidade no mercado de
trabalho", sustentou.
O pedetista defendeu segregar do orçamento da Seguridade Social todos os benefícios de quem não contribui e passar isso para o Orçamento. "Proponho que todos os brasileiros tenham renda mínima. Um regime de repartição, com uma grande acordo para se estabelecer um teto de quatro salários mínimos, talvez três, e daí partir para um regime único", disse.
O pedetista defendeu segregar do orçamento da Seguridade Social todos os benefícios de quem não contribui e passar isso para o Orçamento. "Proponho que todos os brasileiros tenham renda mínima. Um regime de repartição, com uma grande acordo para se estabelecer um teto de quatro salários mínimos, talvez três, e daí partir para um regime único", disse.
Sobre
a autonomia das instituições, inclusive da Receita Federal, Ciro ironizou:
"Qualquer um pode ser presidente da República desde que o BC pertença aos
bancos, a Receita tenha autonomia, todo mundo tenha autonomia”, brincou. O
pedetista alertou, no entanto, para a necessidade de os brasileiros escolherem
bem os parlamentares. “Sou parlamentarista e democrata. Vou fazer propostas e
vai ter quem vote contra e quem vote a favor. Eu conheço bem a Receita Federal,
é uma ilha de excelência do governo brasileiro. Sei que são concursados,
qualificados, decentes, quase inatacáveis. Quando fui ministro, fiz o plano de
cargos. Preciso de conversar muito com vocês (da Receita Federal) entre a
eleição e a posse, porque quero rever todas as renúncias fiscais. Estou me
impondo a tarefa de sanear as contas do Brasil em dois anos”, prometeu. “O
Brasil não merecia passar pelo que está passando. Vamos achar a saída para
devolver ao povo a felicidade que ele merece”, concluiu.
Após a entrevista, Ciro Gomes afirmou que para dirigir o Brasil é necessário experiência. Ele criticou que Bolsonaro esteja concorrendo à presidência, pois não possui a prática necessária ao cargo. "Eu tenho experiência. É um diferencial importante. Só um país como o nosso permite a um aventureiro concorrer. O Bolsonaro nunca administrou o boteco dos pequenos. Nunca se ofereceu para ajudar o estado dele. Eu dei o rosto para bater. Governei minha cidade, meu estado. Passei pelo filtro. Nunca respondi por um mal feito. Não usei auxílio-moradia para fazer aquilo que ele disse que fazia. É preciso ter clareza. Se você tem um país no olho do furacão, tem que procurar gente que conhece os constrangimentos orçamentários."
Segundo
Ciro, Bolsonaro vai terceirizar os serviços. "Por exemplo, a política
econômica quem decide é o político. Se terceirizar essa função a um assessor e
ele não souber o que está fazendo, quebra o agronegócio do país em menos de
dois anos. Os dólares que entram vão sumir, a taxa de câmbio de 3,80 vai para
10 ou 15 por 1. A inflação para 40, 50 100% no ano."
Ele
afirmou ainda que possui compromisso com os ajustes fiscais para equilibrar as
contas do país. "Sou a favor. Mas não por si mesmo. Mas para produzir
dinheiro e melhorar a saúde e a educação."
Sobre
possíveis alianças, ele descarta o MDB. "Há exceções. O Roberto Requião,
Jarbas Vasconcelos, Mauro Benevides. Tem muita gente boa. Mas o problema é essa
quadrilha que tomou conta do país."
Fonte:
Correio Braziliense (Por: Ingrid Soares)
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