Palácio do Planalto
quer a retomada do diálogo com a Câmara dos Deputados e o Senado
Temer espera que manifestações não ganhem corpo a partir de agora(foto: Nelson Almeida/AFP) |
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esperança do governo Michel Temer é que
a saída de Pedro Parente do comando da Petrobras dê fôlego ao
governo. A queda do executivo da Petrobras abre as portas para mudanças na
política de reajuste de preços dos combustíveis. A medida é importante sob a
ótica política por dois motivos. Possibilita ao Palácio do Planalto a retomada
do diálogo com a Câmara dos Deputados e o Senado. E pode evitar que elevações
do custo da gasolina deem motivos para a população ir às ruas manifestar contra
o governo.
Há cinco anos,
insatisfações com aumentos nos valores de passagens de transporte coletivo
levaram brasileiros às ruas, em junho, num processo que deu início à derrocada
da ex-presidente Dilma Rousseff. A situação atual começa a despertar
preocupação com o descontentamento da população. Os primeiros sinais do
desgaste foram dados com a greve dos caminhoneiros, que contou com apoio de
pessoas identificadas com a esquerda e a direita.
Após pronunciamento de
anúncio de acordo com a categoria, Temer lidou com os primeiros “panelaços” em
bairros nobres de diferentes capitais. Manifestantes tomaram as ruas nos
primeiros dias da última semana em protestos com pautas diversas, mas todas
envolvendo em comum o apelo pela redução dos combustíveis. A greve
dos caminhoneiros expôs a fragilidade do governo em lidar com a situação. Não
apenas sob o ponto de vista negocial com a categoria, mas também sob a ótica do
diálogo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício
Oliveira (MDB-CE). A sintonia que antes existia entre Planalto e Congresso deu
lugar a um distanciamento. Diante das discussões do alto custo do óleo diesel e
sobre como reduzi-lo, os presidentes das duas casas do Parlamento criticaram a
atual política de reajuste de preços da Petrobras e acenaram com uma trégua
apenas para aprovar as medidas de interesse dos transportadores.
Sem Parente na Petrobras, o
governo pode, agora, construir uma narrativa que possibilite a retomada do
diálogo com o Congresso, avalia o analista político Paulo Calmon, diretor do
Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB). Uma eventual
ingerência sobre a estatal, no entanto, não assegurará plena governabilidade a
Temer. Mas pode evitar uma derrocada melancólica e dar fôlego para a
pré-candidatura emedebista de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda. “No
frigir dos ovos, permitirá que o governo construa um espaço novo de negociação,
reforçe acordos, e proponha novas alianças”, analisa.
Interferência
Em pronunciamento na
sexta-feira, Temer declarou que não haverá, por parte do governo, “qualquer
interferência política de preços” da estatal sob o comando do próximo
presidente, Ivan Monteiro. Não foi claro, entretanto, se o modelo atual será
mantido. O discurso não convence o economista-chefe da corretora Spinelli,
André Perfeito. “Não tenho a menor dúvida que haverá congelamento do custo de
combustíveis. A atual gestão está politicamente insustentável e vai colocar a
Petrobras para servir o povo”.
Os ganhos políticos que o
governo pode acumular com o represamento de preços dos combustíveis, porém, são
incertos, adverte Perfeito. Para ele, o congelamento nos combustíveis manterá o
dólar subindo e também provocará uma alta da taxa básica de juros (Selic) em
outubro. Tal movimento trará efeitos sobre a inflação, obstruirá uma demanda
por crédito e freará o consumo das famílias. O efeito prático disso deve, nos
cálculos dele, levar o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 1,6%, abaixo da
previsão da equipe econômica do governo, de 2,5%. Um crescimento mais baixo,
por sua vez, compromete uma geração maior de empregos e renda. “Todo esse
cenário deságua em uma desidratação do capital político”, avalia.
Coligação
A lentidão na retomada da
economia é uma das variáveis que podem comprometer os bônus políticos com
mudanças na política de preços da estatal. Outra é a possibilidade de Temer ser
denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) uma terceira vez,
situação que não joga a favor do governo e da pré-candidatura de Meirelles, que
poderia absorver os impactos negativos da decisão.
Para o especialista em
política brasileira Sérgio Praça, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
não seria uma surpresa o cenário turbulento empurrar de vez o MDB a propor uma
coligação com o PSDB. “Se encaminha para isso. E o MDB ainda tem muito a oferecer,
como tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita, fundo eleitoral, e a
estrutura política nos estados”, analisa.
O ministro-chefe da
Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, avalia a
situação política e eleitoral de outra forma. Para ele, o cenário atual não
aponta nenhum candidato de centro forte o suficiente para indiscutivelmente
atrair as outras pré-candidaturas do espectro político. Por esse motivo, ele
não vê motivos para o MDB abandonar a campanha de Meirelles. “Não tem candidato
com viabilidade no campo do bom senso. O caminho não é esse, de procurar
coligação, mas pode ser o de construção de um projeto”, considera.
A análise eleitoral do
governo após a greve dos caminhoneiros ainda está sendo feita. “Obviamente que
a crise terá impactos e teremos que fazer uma avaliação. Mas ainda não fiz”,
admite Marun. Ele afirma, no entanto, que as manifestações nas ruas recordam
mais o período que antecedeu a instauração do regime militar em 1964 do que as
manifestações de junho de 2013. “Tivemos há 54 anos gente pedindo nas ruas uma
intervenção e a esquerda provocando. Agora, tivemos um lado pedindo
(caminhoneiros) e outro provocando (greve dos petroleiros). A diferença agora
foi a absoluta observância dos militares à legalidade”, justifica.
Temor de fake news
O Palácio do Planalto
produziu vídeos para redes sociais em que nega a notícia de que haverá novo
movimento de paralisação dos caminhoneiros nos próximos dias. O material diz
que “caminhoneiros de verdade” voltaram ao trabalho com o acordo fechado com o
governo e a suposta mobilização é organizada por radicais que “tentam botar
medo nas pessoas espalhando mentiras por aí”.
“É importante que você não
acredite em qualquer coisa que chegue para você nos grupos da família ou do
trabalho”, diz o vídeo. O governo defende no material que todas as reclamações
dos motoristas foram atendidas, como a redução do preço do diesel, a adoção de
uma tabela nacional de fretes e a reserva de 30% do transporte da Conab para
autônomos.
A estratégia do governo
ocorre como uma ação de contrainformação diante de caminhoneiros independentes
que estariam se mobilizando para protestar hoje e amanhã em Brasília.
Organizadores dizem, nas mesmas redes sociais, que poderiam levar até 50 mil caminhões
para a capital federal. Em algumas mensagens, manifestantes sugerem estocar
comida e encher o tanque de combustível.
O Planalto diz que há
“aproveitadores” se mobilizando “para se promover”. “Não acredite nessas
pessoas. E tenha consciência na hora de passar para frente informações. Na
dúvida, não passe”, conclui um dos vídeos
Fonte: Rodolfo Costa (Correio Braziliense)
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