Os 25
imigrantes africanos que estavam à deriva em alto mar e foram resgatados para o
Maranhão conseguiram a emissão do Cadastro de Pessoa Física (CPF) no
Brasil. O cadastro realizado pela Receita Federal ocorre no momento em que o
grupo completa um mês do dia em que chegaram no Brasil.
A solicitação do CPF foi realizada pela Defensoria
Pública da União (DPU). Agora todos os imigrantes podem emitir a Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS) e exercer outros atos de cidadania no
país. A DPU também tenta conseguir o visto permanente de todos por meio de uma
ação coletiva.
Segundo a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e
Participação Popular (Sedihpop) um grupo de trabalho formado pelo Governo e
organizações da sociedade civil também estão se reúnem para buscar uma solução
conjunta relativa aos próximos passos, seguindo as orientações da Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
A vida no Brasil
Atualmente
todos continuam alojados no Ginásio Costa Rodrigues, no centro de São Luís, mas
podem andar livremente pelo país de forma legal desde quando conseguiram o
documento provisório de Registro Nacional Migratório.
Nesta
terça-feira (19) os 25 africanos até assistiram com entusiasmo a estreia
de Senegal na Copa do Mundo da Rússia. Dentre eles, os 19 senegaleses se
misturaram aos ludovicenses na festa pela vitória da seleção no Estádio do
Spartak, em Moscou.
Durante o dia
eles também passeiam pela cidade e não tem hora para voltar, apenas recebem
orientações para evitar lugares que possam ser perigosos. Quando não estão no
alojamento saem pelas ruas do centro e até aproveitam os festejos juninos que
ocorrem durante a noite.
Eles também
conheceram as praias de São Luís e os pontos turísticos da cidade. O refugiado
de Serra Leoa Muctarr Mansaray, de 27 anos, disse que pretende continuar na
cidade.
“A cidade de vocês é muito ‘massa’ porque tem muita
pessoa carinhosa. Eu amo praia. Vou para o a praia do Calhau porque acho muito
bonito e gosto muito. Aqui também gostei porque no meu país a gente não costuma
comer muita farinha, mas aqui tem bastante”, brincou Muctarr ao falar sobre São
Luís.
Apesar disso, muitos não deixaram os costumes de lado
ao chegar no Brasil. A maioria muçulmana no grupo prefere usar os trajes
típicos de seu país de origem e não deixaram de praticar o ramadã neste mês de
junho. Foram vários dias sem comer durante a luz do dia.
Gastos
Os imigrantes
ainda não sentem a falta de dinheiro porque não precisam gastar muito no
Brasil. Até o momento eles possuem alojamento, água, energia, comida e
assistência médica fornecidos de forma gratuita pelo Governo do Maranhão no
ginásio Costa Rodrigues.
Além disso,
desde o momento em que chegaram no país os africanos recebem todo tipo de
doação. A maior parte veio de uma mobilização da Cruz Vermelha, que reuniu as
doações da população. Os donativos estão amontoados em caixas encontradas dentro
de cada quarto.
São roupas, desodorantes, shampoos, comida e material
de limpeza. A doação de roupas foi tanta que eles não dão conta e já querem
doar uma parte para brasileiros necessitados.
Segundo a
Sedihpop, uma casa chegou a ser foi oferecida por uma igreja para que eles
possam ficar permanentemente. No entanto, a Secretaria e os próprios africanos
ainda avaliam a possibilidade de ficar na casa, pois suspeitam que possa ser
uma forma de convertê-los ao cristianismo.
Trabalho
Até o momento,
18 africanos manifestaram interesse em permanecer no Maranhão e estão buscando
contatos de emprego para conquistarem sua autonomia. Em relação aos sete que
querem ir para outros estados, o Governo do Estado está em campanha para juntar
recursos dentro das secretarias e custear as passagens.
Em seus países de origem os refugados trabalhavam como
pintores, garçons, pedreiros, motoristas e dizem que topam vários tipos de
trabalhos no Brasil. Mohamed Saliou Bah, de 26 anos, é refugiado de Guiné e
disse que busca trabalhar e melhorar a vida da família que deixou para trás.
“Eu quero trabalhar como motorista aqui no Brasil, mas
primeiro quero aprender português para trabalhar melhor. Minha família estava
sofrendo no meu país então eu vim para tentar ajudar. Todas as noites eu penso
neles”, afirmou Mohamed.
Dos 25
imigrantes, apenas Muctarr Mansaray tem ensino superior e também é o único que
sabe falar português. Ele é formado em Literatura-Inglês e estudava ciência da
tecnologia, mas não conseguia pagar a universidade em seu país. Além aprimorar
a formação acadêmica, Muctarr quer trabalhar dando aulas de inglês no Brasil.
“Um colega me disse que aqui eu conseguiria trabalhar,
estudar e ainda ajudar minha família. Então vim para isso. Eu quero dar aulas
particulares para ganhar dinheiro e continuar estudando”, contou.
Resgate em alto mar
No dia 19 de
maio um grupo de 25 imigrantes africanos foi resgatado em alto-mar por um grupo
de pescadores cearenses próximo ao município de São José de Ribamar, na Região
Metropolitana de São Luís. Na embaração chamada de “Rossana” estavam
estrangeiros de Senegal, Nigéria, Guiné, Serra Leoa e Cabo Verde, além de dois
brasileiros identificados como Josenildo Nascimento e Sílvio da Paixão Freitas.
Em depoimento, os africanos disseram que o barco partiu
de Cabo Verde entre os dias 16 e 17 de abril, mas ficou à deriva por vários
dias após o mastro quebrar e o motor pifar.
Após o resgate,
equipes do Corpo de Bombeiros e das polícias Federal e Militar aguardavam o
grupo no cais de São José de Ribamar, onde foram recolhidas as primeiras
informações com os imigrantes. Os africanos passaram por atendimentos médicos e
foram servidas refeições. O grupo recebeu atendimento médico em uma Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) porque estavam com quadro de desidratação e depois
foram liberados.
Em seguida, eles foram encaminhados para o Ginásio
Costa Rodrigues em São Luís, onde seguem recebendo doações da população e
auxílio do Governo do Estado.
Prisões
A Justiça
Federal decretou a prisão dos brasileiros Josenildo Nascimento e Silvio da
Paixão Freitas. Segundo as investigações da Polícia Federal, os dois seriam
‘coiotes’ e teriam recebido dinheiro pra fazer o transporte ilegal dos
africanos de Cabo Verde até o Brasil.
A embaixada de
Cabo Verde no Brasil informou que vai tomar medidas para reprimir esse tipo de
tráfico de pessoas tendo o seu país como ponto de partida.
“Vamos, com certeza, usar os mecanismos de cooperação
entre os dois estados de modo a que possamos prevenir e reprimir esse tráfico”,
declarou o embaixador Domingos Dias Mascarenhas.
Fonte: G1
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