Elza
do Caroço
Mulher
simples do interior do Maranhão, dona Elza driblou o preconceito e conquistou o
mundo cantando e dançando caroço.
Primeiro
conjunto de caroço/1965
Filha
caçula do Sr. Bernardo e de dona Delmira, Elza Sousa Mendes nasceu no ano 1935,
no povoado do Dendê, nas imediações de Tutóia Velha. Ainda menina, se encantou
pelos saberes das caixeiras velhas. A aproximação de dona Elza com essas
mulheres não foi bem vista pelos familiares, mas logo a família percebeu que a
menina Elza não tinha a pretensão de seguir a rota que tinham preparado para
ela.
Nunca
casou, mas teve romances e um único filho: Bernardo. Mulher corajosa, deixou
Tutóia Velha sozinha com o filho ainda pequeno e mudou-se para São Luis onde
viveu por 7 anos, trabalhando como empregada doméstica. Em 1962, ao voltar para
Tutóia, dona Elza volta também a dançar caroço, nessa época a dança estava no
auge. À medida que as caixeiras velhas envelheciam e deixavam a dança, dona
Elza se destacava. Seu canto, sua dança, sua capacidade de criar versos, melodias,
assim como à sua capacidade de articulação e liderança frente às elites lhe
renderam o título de rainha do caroço.
A
concessão desse título tornou dona Elza o maior nome do caroço no Maranhão. Seu
“conjunto” passou a ser uma apresentação marcante nas festas em São Luis.
Tiveram um CD gravado (2000) e participaram de coletâneas (a primeira em 1986 e
outra em 2001), foram alvo de inúmeras reportagens e vídeos e receberam
diversos pesquisadores. Mas, sua vida na dança rendeu várias polêmicas. Seu “reinado”
foi muitas vezes questionado pelos caroçeiros e sua saída de Tutóia Velha para
o Paxicá representou, para os mais velhos, um abandono das tradições, no
entanto, sua paixão pelo caroço jamais foi questionada.
Na
alegria ou na dor (como foi em 2003, quando perdeu seu único filho) ela dançava
e tornava nossa cidade conhecida Brasil a fora, na sua voz, Tutóia será sempre
a terra de areia branca. A rainha do caroço faleceu em novembro de 2013.
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Fonte:
A principal fonte de pesquisa desse texto foi o estudo do antropólogo Daniel
Castro Dória de Menezes da Universidade de Brasília e as conversas com o
professor Wander Cleison do povoado Dendê, atual organizador da dança do caroço
na região.
Texto
- Helena Maria
Sobre
a autora - Graduada em historia pela Universidade Estadual do Ceará.
Funcionária da Rede Pública de Ensino do município de Paulino Neves. Trabalhou
no Memorial da Cultura Cearense e tem cursos na área de patrimônio e história.
Em parceira com Instituto Educacional Maria Madalena -IEMMA, escola da Rede
Privada, desenvolveu e apresentou trabalho sobre os monumentos mais antigos de
Tutóia.
Via:
Neto Pimentel
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