A concorrência pode ajudar a reduzir os
custos de tratamento com medicamentos biológicos, afirma o médico oncologista
Stephen Stefani. Ele publicou neste ano, junto com outros cinco especialistas,
um artigo sobre o acesso à tecnologia de ponta em tratamentos contra o câncer
na The Lancet, revista científica do Reino Unido. “Ter mais do que um
fornecedor no mercado gera necessidade de criatividade dos fornecedores”,
enfatizou ao palestrar sobre o tema em um workshop promovido pelo
laboratório Libbs.
No caso dos medicamentos biológicos,
desenvolvidos a partir de anticorpos e proteínas de animais e seres humanos,
tem papel importante, segundo o médico, os biossimilares. Essas drogas são
elaborados a partir de células, isolando as moléculas que produzem os efeitos
desejados em cada caso. Os biossimilares são medicamentos que apresentam resultados
equivalentes aos produtos originais.
“Só com a entrada de biossimilares no
mercado, nós vamos ter reduções que vão variar de 20% a 40% do custo daquele
tratamento”, enfatiza Stefani. Assim, de acordo com ele, é possível aumentar o
acesso a esse tipo de tecnologia.
Mais eficientes
O médico explica que os medicamentos
biológicos permitem, no caso de tratamentos de câncer, uma ação mais eficiente
do que a quimioterapia convencional. A partir da identificação de determinadas
moléculas, é possível fazer com que o sistema imunológico identifique e reaja
às células do tumor, por exemplo. Uma ação menos agressiva que o tratamento
químico, que acaba agredindo todo o organismo. “A gente não tinha como
verificar aquela célula especificamente, e tinha que dar veneno para todo
mundo”, ressalta.
Segundo Stefani, os resultados com esse tipo
de droga têm se mostrado cada vez mais promissores. “Os resultados são tão
impressionantes que a gente passou a curar tumores que não curava”, destaca. E,
em breve, ele acredita que mais doenças serão tratadas dessa forma. “Tudo que
nós estamos vendo em câncer hoje vai ser manchete para qualquer doença, e as
mais frequentes, em muito pouco tempo”, acrescenta.
Custos elevados
No entanto, o especialista pondera que os
custos da tecnologia de ponta são cada vez mais elevados, impactando os
sistemas de saúde. Por isso, ele defende que seja feita uma discussão aberta
sobre ra relação entre custo e benefício das novas drogas e da própria forma
como são feitos os gastos, especialmente no sistema público de saúde. “Essa
preocupação já chegou na agenda de países ricos”, diz.
Esses novos tratamentos chegam ao mercado,
segundo o médico, com um valor médio de US$ 10 mil mensais. Nesse contexto,
Stefani defende uma preparação do sistema de saúde que fuja das demandas
judiciais que obrigam a oferta dos novos medicamentos apenas para os
beneficiados pelas decisões de magistrados. “A judicialização é um veneno,
porque privilegia quem sabe judicializar”, critica.
Biossimilar nacional
A fábrica do laboratório Libbs em Embu das
Artes recebeu um financiamento de R$ 250 milhões do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para produzir nacionalmente um
biossimilar equivalente a uma droga importada. A construção foi iniciada em
2013, sendo concluída em 2016. Depois de três anos de operação, a unidade
recebeu em junho deste ano a aprovação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para o anticorpo rituximabe, indicado para tratamento de
linfomas.
O projeto prevê ainda a transferência da
tecnologia para o Instituto Butantã. A droga já está sendo produzida em escala
industrial. Porém, até o momento as vendas têm atendido apenas o setor privado
de saúde.
Segundo o diretor de negócios do laboratório,
Marco Dacal, apenas o anúncio da entrada do medicamento no mercado nacional
provocou uma queda de 22% no preço da droga de referência. O custo mensal do
tratamento com os anticorpos obtidos por meio de clonagem fica em torno de R$ 6
mil.
Fonte: Agência Brasil
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