Ricardo Salles é um provocador fantasiado de
ministro do Meio Ambiente. No ano passado, ele tentou se eleger deputado pelo
Partido Novo, com apoio de ruralistas e fabricantes de armas. Na propaganda,
exibiu balas de fuzil como solução contra a “praga do javali”, a “bandidagem no
campo” e “a esquerda e o MST”. Foi derrotado nas urnas, mas ganhou um cargo no
governo.
Ao tomar posse, o ministro já havia sido
condenado por fraude ambiental em São Paulo. Pouco depois, descobriu-se que ele
também falsificava diplomas. Assinou artigo como mestre na Universidade Yale,
onde nunca estudou.
Na Esplanada, Salles manteve o hábito de
semear o confronto. Já bateu boca com ambientalistas, cientistas do Inpe,
servidores do Ibama e deputados da oposição. Ganhou o apelido de antiministro e
virou alvo de um inédito pedido de impeachment.
Enquanto ele fabricava polêmicas, o país
passou por três emergências ambientais: o rompimento da barragem de Brumadinho,
a onda de queimadas na Amazônia e o derrame de óleo no litoral do Nordeste.
Nos últimos dias, Salles elegeu um novo alvo:
o Greenpeace, que tem organizado protestos contra o governo. Na segunda-feira,
ele divulgou um vídeo editado para acusar a entidade de não colaborar na
limpeza das praias. Depois chamou de “terroristas” manifestantes que fizeram um
ato pacífico em Brasília.
Ontem o ministro tuitou que um navio da ONG
estaria próximo ao litoral brasileiro “bem na época do derramamento de óleo
venezuelano”. “Tem umas coincidências na vida né...”, insinuou. Ele ilustrou a
mensagem com uma foto antiga, dando a entender que seria um flagrante atual. O
truque lhe rendeu uma bronca do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que cobrou
explicações e reclamou da “ilação desnecessária”.
Criticado pela gestão desastrosa, Salles
imita o estilo do chefe para se agarrar à cadeira. No auge das queimadas na
Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu, sem provas, que “ongueiros”
estariam por trás dos focos de incêndio. Agora o ministro ataca os
ambientalistas para desviar o foco da tragédia ambiental.
Escrito por: Bernardo Mello Franco
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