Wilson Witzel sancionou lei com nome de Marielle, mas se recusa a
prestar informações atualizadas sobre o caso. Depois de 580 dias, as perguntas
ainda são as mesmas
Hoje completam-se 580 dias do assassinato de Marielle Franco. Ontem
a família contou um ano e sete meses desde a noite do crime. As datas se
sucedem tanto que já deixaram de ser notícia. As perguntas permanecem as
mesmas: Quem mandou matar? Por quê?
A vereadora foi fuzilada quando voltava para casa após um debate
com jovens negras. Era conduzida pelo motorista Anderson Gomes, que ficou na
linha de tiro e também morreu na hora. Os criminosos nem se preocuparam em
simular um assalto. A execução à queima-roupa, no centro do Rio, deixou todos
os sinais de um crime sob encomenda.
Em novembro de 2018, o então ministro da Segurança Pública
denunciou uma “grande articulação envolvendo agentes públicos, milicianos e
políticos” para impedir a elucidação do caso. Quase um ano depois, o público
ainda assiste a um festival de fatos mal explicados e manobras de
acobertamento.
No domingo, o portal UOL informou que a Polícia Civil alega ter
perdido “imagens relevantes” guardadas num pendrive. O delegado que relatou o
sumiço já havia tentado emplacar a versão de “crime de ódio”. Pela tese dele,
matadores profissionais teriam tirado um único dia para trabalhar de graça.
O governador Wilson Witzel sancionou uma lei com o nome da
vereadora, mas se recusa a prestar informações atualizadas sobre o caso. Um
ofício da Anistia Internacional repousa em sua mesa desde o início de setembro.
Pede o básico: uma apuração “célere, transparente, independente e imparcial”,
que seja capaz de identificar os mandantes do crime.
“A gente compreende o sigilo das investigações, mas não o silêncio
das autoridades”, diz a diretora-executiva da Anistia, Jurema Werneck. “Nenhum
defensor dos direitos humanos está seguro no Brasil enquanto esse caso
permanecer impune”, acrescenta.
Nas últimas semanas, Marielle foi homenageada no Rock in Rio e deu
nome a um jardim público em Paris. Enquanto isso, o governo Bolsonaro censurou
um programa da TV Brasil que mostrava sua imagem por míseros cinco segundos.
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