Jair Bolsonaro quer guerra. Na sexta-feira, o capitão participou de
uma solenidade no Complexo Naval de Itaguaí. Diante de operários e oficiais da
Marinha, fez mais um discurso em tom de combate. “Temos inimigos dentro e fora
do Brasil. Os de dentro são os mais terríveis. Os de fora nós venceremos com
tecnologia e disposição, e meios de dissuasão”, afirmou.
O Brasil já teve um presidente que se sentia perseguido por “forças
terríveis”. Agora é comandado por um ex-militar que vê perigos em toda parte.
A retórica de Bolsonaro expõe uma personalidade viciada em
confronto. No último dia 2, no Planalto, ele falou em “dar a vida pela pátria”.
“Não nos esqueçamos que o inimigo está aí do lado, o inimigo não dorme”,
advertiu.
Em agosto, no QG do Exército, jurou “lealdade ao povo” e conclamou
o povo a “marchar para o sucesso”. “Não nos faltam é inimigos como os de
sempre, que teimam em ganhar a guerra de informação contra a verdade”, afirmou.
Na ausência de guerras reais, o presidente se dedica a fabricar
inimigos imaginários. No início do governo, a ameaça viria dos comunistas, que
estão em extinção desde a queda do Muro de Berlim. Em seguida, foi a vez de
estudantes, professores, artistas e jornalistas.
Com a onda de queimadas na Amazônia, entraram na mira cientistas e
ambientalistas que alertam para os riscos de destruir a floresta. Depois a
fúria se voltou contra líderes da centro-direita europeia, como Angela Merkel e
Emmanuel Macron.
A pregação contra “inimigos internos” é usadapor todo regime
autoritário. Na ditadura brasileira, o conceito fazia parte da doutrina de
segurança nacional. Servia para simular um ataque iminente e justificar a
repressão feroz aos opositores.
No caso de Bolsonaro, a estratégia se mistura a uma tendência à
paranoia. Nos últimos tempos, o capitão passou a enxergar inimigos até nas
próprias bases. Personagens como o cantor Lobão e o deputado Alexandre Frota,
que o apoiaram com fervor, viraram desafetos do governo. Agora o alvo é o PSL,
o partido do clã presidencial. Aliados que resistem à nova cruzada, como o
senador Major Olímpio, estão prestes a entrar na lista dos proscritos.
Escrito por: BERNARDO MELLO FRANCO
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