Deputados pró-democracia interromperam, nesta
quarta-feira (16), o discurso político anual da chefe do executivo de Hong
Kong, Carrie Lam, com assobios e cartazes de protestos. Carrie Lam foi obrigada
a abandonar o Parlamento e falar a portas-fechadas,em um discurso transmitido
pela televisão.
Fora do Parlamento, depois do discurso, um
grupo de parlamentares improvisou uma entrevista coletiva, em que pediram a
demissão de Carrie Lam, acusando-a de ter “sangue nas mãos” – uma alusão ao uso
de força excessiva por parte da polícia para reprimir os manifestantes.
“As duas mãos dela estão ensopadas de sangue”, acusou a deputada da oposição Tanya Chan. “Esperamos que Carrie Lam se retire. Ela não tem capacidade de governar. Ela não é a pessoa adequada para chefe do executivo”, afirmaram.
"Ela é apenas uma marioneta comandada por Pequim", disse a deputada Cláudia Mo. "Por favor, por favor, por favor, Carrie Lam, não nos deixe sofrer mais", acrescentou.
O cenário de protestos e violência em Hong
Kong já dura quatro meses. No foco das contestações está uma proposta de emenda
à Lei de Extradição, que os manifestantes consideram perda de liberdade da
região que é governada sob a fórmula “um país, dois sistemas” desde que Hong
Kong, antiga colônia britânica, foi devolvida à China em 1997.
No início de setembro, o governo anunciou que
iria retirar a Lei de Extradição da região administrativa especial chinesa. A
suspensão da sessão no Parlamento fez com que a lei não fosse retirada
formalmente.
Apesar dessa promessa de Lam, os
manifestantes continuam a exigir que o governo responda a outras
reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos
protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à
violência policial, a demissão de Lam e a eleição para o cargo e para o
Parlamento.
"As pessoas perguntam: Hong Kong voltará
ao normal?", questionou Carrie Lam em seu discurso, apelando, em seguida,
aos 7,5 milhões de cidadãos do território para "que valorizem a
cidade".
Prisões
A chefe do Executivo anunciou que
"quaisquer atos que defendam a independência de Hong Kong e ameacem a
soberania do país, os interesses de segurança e desenvolvimento não serão
tolerados".
"A contínua violência e a disseminação
do ódio" vão "corroer os valores centrais de Hong Kong", alertou
Lam.
Ela anunciou várias medidas nas áreas de
habitação e infraestrutura e disse que a crise da habitação é a questão mais
urgente que a cidade enfrenta.
Em entrevista após o discurso, a chefe do Executivo ignorou os pedidos de renúncia e rejeitou duas das cinco exigências dos manifestantes. Na opinião de Lam, a libertação dos manifestantes detidos é ilegal, e a demanda por eleições está além do seu poder. .
"Apesar dos tempos agitados e das
enormes dificuldades que Hong Kong enfrenta, acredito que se aderirmos
rigorosamente ao princípio de 'um país, dois sistemas', seremos capazes de sair
do impasse", considerou Carrie Lam.
*Emissora pública de televisão de Portugal
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