O ministro Marco Aurélio Mello tocou no
assunto ao seu estilo: com ironia. Ao iniciar o voto de ontem, ele mencionou os
vídeos em que caminhoneiros bolsonaristas ameaçam invadir o STF.
“Recebi no WhatsApp que se estaria reforçando
a rampa aqui do Supremo, porque teríamos caminhão subindo...”, disse, com um
sorriso no rosto.
Em tom mais grave, outros ministros também
reclamaram do bombardeio virtual dos últimos dias. É uma campanha orquestrada,
com métodos testados na disputa eleitoral de 2018.
O decano Celso de Mello identificou, nas
novas ameaças à Corte, a “atuação sinistra de delinquentes que vivem da
atmosfera sombria e covarde do submundo digital”. Acrescentou que esses grupos
perseguem “um estranho e perigoso projeto de poder”, incompatível com o regime
democrático.
Há três décadas no Supremo, o ministro disse
que o Brasil passa por um momento “extremamente delicado”, em que é assombrado
por “espectros ameaçadores, surtos autoritários e manifestações de grave
intolerância que dividem a sociedade civil”. Não foi a primeira vez que ele
alertou para tentativas de intimidação do Judiciário na “nova era”.
A nova onda de pressões tenta emparedar os
ministros contrários à prisão de réus condenados em segunda instância. Isso não
impediu que os favoráveis à regra atual também protestassem contra a
agressividade dos ataques.
Para Alexandre de Moraes , o STF tem sido
alvo de um bombardeio que mistura ameaças, discursos de ódio e fake news.
Ele reclamou de uma “pregação fundamentalista” que prevê o apocalipse antes de
julgamentos importantes. “De cada decisão judicial, dependeria o sucesso ou a
ruína da nação”, disse.
A ofensiva dos caminhoneiros contra o Supremo
é liderada por Ramiro Cruz Júnior, que acusa o tribunal de tentar “soltar
bandidos no atacado”. Ele ostenta proximidade com a família Bolsonaro e tentou
se eleger deputado pelo PSL. Foi recebido pelo presidente em 17 de abril,
segundo registros oficiais do Planalto.
Escrito por: Bernardo Mello Franco
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