O homem é considerado o anjo da guarda do
casal
Dayton Denis Siqueira e Simone Aparecida
Pereira, dois noivos surdos, levaram um susto ao subir no altar e encontrar um
padre que celebrou a cerimônia em Libras, a Língua Brasileira de Sinais.
Foi uma surpresa! Eles só foram avisados na
última hora que haveria um substituto, mas não sabiam o motivo.
E quem apareceu foi o homem considerado o
‘anjo da guarda’ dos dois: o religioso Wilson Czaia, que também é deficiente
auditivo.
Ele emocionou os convidados e os noivos ao
fazer a cerimônia em Libras. “Estamos muito felizes”, disse Dayton.
Wilson Czaia saiu da diocese de Curitiba, no
Paraná, para abençoar a união em Franca, no interior de São Paulo.
História de amor
Em 2012, após uma conversa com o padre Wilson
Czaia durante o Hallel, festival de música cristã que reúne milhares de fiéis
em Franca, Dayton se encantou por Simone.
Prestes a ir embora, Dayton diz que Czaia
pediu a ele que aguardasse cinco minutos. Nesse intervalo, o jovem viu Simone
no meio da multidão.
“Eu me aproximei, comecei a conversar e logo
trocamos o número de celular para conversar no Whatsapp. Conversa vai, conversa
vem, começamos a namorar.”
Simone morava em Jacuí (MG), a cerca de duas
horas de Franca. O namoro engatou, mesmo à distância.
Em 2016, os dois decidiram morar juntos e ela
se mudou para o interior de SP.
Religiões diferentes
A religião sempre fez parte da vida do casal.
Dayton nasceu em uma família espírita e Simone, em uma católica.
Quando se apaixonaram, descobriram o trabalho
feito pela Pastoral do Surdo e passaram a frequentar as missas especiais na
Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no bairro Jardim Paulistano, aos domingos.
A missa celebrada com intérpretes levou o
casal a se aprofundar na fé católica.
“Para a comunidade surda isso é o máximo. Até
então, todo mundo só ficava olhando, mas não se envolvia tanto. Quando o padre
Ovídio abriu isso, daí pra frente, eles [surdos] se apegaram à igreja”, disse a
voluntária na pastoral, Maria Rita Capel, que traduz em Libras as mensagens e
os ensinamentos bíblicos.
A diocese nomeou o padre Ovídio José Alves de
Andrade responsável pela Pastoral do Surdo na cidade.
Com o tempo, foram desenvolvidas atividades
com o propósito de incluir deficientes auditivos na igreja e eles puderam
receber os sacramentos, como batismo e eucaristia.
E foi o convívio com outros casais na
paróquia que despertou em Dayton e em Simone a vontade de casar na igreja.
O reencontro
Desde que o noivo passou a considerá-lo o
anjo da guarda do relacionamento, há sete anos, eles nunca haviam se
encontrado.
Na ocasião, Dayton pediu a palavra e revelou
aos amigos da pastoral e ao religioso o amor que havia descoberto por intermédio
dele.
Foi a deixa para que Maria Rita e os demais
membros da pastoral começassem a organizar a surpresa na cerimônia.
“Ele falou que aceitava, mas pediu segredo.
Nós não comentamos nada com ninguém. No dia seguinte ao casamento, o padre
Wilson tinha que estar em São Paulo para a ordenação de um diácono surdo.
Compramos a passagem dele na sexta-feira, de Curitiba para Ribeirão Preto.”
Emoção
No dia do casamento, no começo deste mês,
Simone se preparou com a ajuda de amigas da igreja.
“O seminarista Márcio avisou que naquela hora
não havia padre para celebrar o casamento, mas que a igreja já havia
providenciado um substituto. Ele pediu a nós dois que olhássemos para a porta
de entrada da igreja. Ao ver o padre Wilson entrando, nós não conseguimos falar
nada”, diz Simone.
Dayton não conteve as lágrimas.
Padre Wilson, que atua em Curitiba pela
inclusão da comunidade surda, também se emocionou ao levar sua mensagem ao
casal e aos convidados.
“Foi muito bonito e eu me sinto feliz. A
gente percebe a razão da vida. Viver é fazer a outra feliz. Eles são seres
humanos que necessitam estar no meio, incluídos, e não à parte”, concluiu Maria
Rita.
Padre Wilson Czaia – Foto: Renato Cunha
Os noivos Dayton e Simone – Foto: Renato
Cunha
Com informações do G1
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