Pontífice tratou do tema em
missa de abertura do Sínodo da Amazônia, neste domingo (6). Encontro de bispos
católicos vai ocorrer no Vaticano até o dia 27 de outubro.
Durante a missa de abertura do Sínodo
dos Bispos sobre a Amazônia neste domingo (6), o Papa Francisco disse que
o fogo que "devastou recentemente a Amazônia" foi "ateado por
interesses que destroem". Usando a metáfora do fogo em todo o seu sermão,
ele defendeu que a região amazônica precisa do "fogo do amor de
Deus", que não é devorador, mas "aquece e dá vida".
Por meio desse símbolo do fogo, Francisco faz
referência à passagem bíblica do Antigo Testamento em que o profeta Moisés
conversa com Deus por meio de um arbusto ardente. Assim, o Papa disse que a
Amazônia precisa desse tipo de fogo, que ele chama de "fogo da
missão", e não do fogo "que vem do mundo" e "devora povos e
culturas."
Como já é esperado para seus discursos no
Vaticano, Francisco não citou diretamente nenhum país específico, mas o tema
das queimadas – que aumentaram neste ano na Amazônia em relação ao ano passado
– foi mencionado.
"Deus nos preserve da ganância dos novos
colonialismos", declarou o Papa. "O fogo ateado por interesses que
destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é do Evangelho. O
fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a
partilha, não com os lucros."
Segundo Francisco, "o fogo devorador
alastra quando se quer fazer triunfar apenas as próprias ideias, formar o
próprio grupo, queimar as diferenças para homogeneizar tudo e todos".
Reacender o fogo
O Papa também mencionou um texto escrito por
São Paulo, em que usa o verbo "reacender" para falar dos "dons
recebidos de Deus". Falando principalmente para os bispos que participarão
do Sínodo e outras pessoas presentes na Basílica de São Pedro, Francisco
observou que "o fogo não se alimenta sozinho, morre se não for mantido
vivo, e se apaga se as cinzas o cobrirem".
O que pode sufocar a ação da Igreja na
Amazônia, segundo ele, são "as cinzas dos medos e a preocupação de
defender o status quo".
Francisco alertou que é papel da Igreja
"caminhar junto" com o povo da Amazônia que "carrega cruzes
pesadas". Para ele, é preciso ter prudência, mas não medo ou indecisão.
"Reacender o dom no fogo do Espírito é o oposto de deixar as coisas
correrem sem se fazer nada", comentou.
Mártires da Amazônia
No fim da pregação, o Papa recordou também as
pessoas que perderam a vida na Amazônia por "testemunhar o
Evangelho". Citando o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, que é o
relator-geral do Sínodo sobre a Amazônia, disse que é preciso ir aos cemitérios
das pequenas cidades visitar o túmulo dos missionários.
Francisco brincou que Dom Cládio foi
"esperto" por pedir ao Papa que esses mártires sejam declarados
santos pela Igreja. Um dos casos mais famosos em todo o mundo é o da Irmã
Dorothy Stang, religiosa norte-americana assassinada com seis tiros em 2005,
aos 73 anos, por enfrentar poderes paralelos na região de Anapú, no Pará.
Durante a oração do Angelus, que reza todos
os domingos na Praça de São Pedro, o Papa Francisco pediu aos fiéis que rezem
pelo bom andamento do Sínodo sobre a Amazônia.
Sínodo da Amazônia
O encontro de bispos da Igreja Católica que
neste ano vai discutir a floresta, começou neste domingo e vai até o dia 27 de
outubro, no Vaticano. No encontro serão discutidos temas ambientais, sociais e
próprios da Igreja Católica presente nos nove países que compreendem
territórios da região amazônica: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru,
Guiana, Guiana Francesa, Venezuela e Suriname.
Participam bispos, padres e freiras dessa
região, além de estudiosos, pessoas ligadas à Organização das Nações Unidas
(ONU) e membros dos escritórios do Vaticano (a Cúria Romana).
Como a maior parte da floresta está no
Brasil, o sínodo terá muitos participantes brasileiros. O mais importante deles
é o relator-geral, responsável pela redação dos documentos, o cardeal Dom
Claudio Hummes.
O que é o Sínodo?
A palavra "sínodo" vem do grego
“sýnodos” e quer dizer “reunião”. Na Igreja Católica, o sínodo pode ser
qualquer reunião entre os praticantes desta religião.
Em 1965, Paulo VI criou o Sínodo dos Bispos.
A ideia é reunir Papa e Bispos para discutir temas importantes que podem ser ou
não religiosos. Antes da Amazônia, os temas escolhidos haviam sido jovens e
família, por exemplo.
Por que o sínodo vai falar da Amazônia?
O sínodo deste ano foi convocado em outubro
de 2017 pelo Papa Francisco. A ideia, segundo o Vaticano, é debater as
dificuldades de a Igreja atender os povos da região, especialmente os
indígenas.
De acordo com a Igreja Católica, faltam
padres, as distâncias entre as comunidades são longas e a carência de serviços
públicos acaba fazendo com que a Igreja assuma papéis de assistência social.
O que será discutido no Sínodo da Amazônia?
O documento que orienta a reunião tem duras
críticas ao atual modelo de desenvolvimento da Amazônia. Entre os pontos a
serem debatidos estão:
- a complexa situação das comunidades indígenas e ribeirinhas, em especial os povos isolados;
- a exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia;
- a violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais;
- o extrativismo ilegal e/ou insustentável;
- o desmatamento, o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade;
- o aquecimento global e possíveis danos irreversíveis na Amazônia;
- a conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente.
Por que o Papa Francisco escolheu falar da
Amazônia?
O Papa Francisco é o Papa que mais se dedicou
à pauta ambiental. A encíclica Laudato si' (Louvado seja) foi um dos documentos
mais importantes que já escreveu e teve impacto, por exemplo, nas discussões
que levaram ao Acordo de Paris.
Há quatro anos, Francisco lançou uma
encíclica repleta de críticas ao modelo de desenvolvimento que destrói o meio
ambiente sem compromisso com a inclusão social.
Para o Papa Francisco, os problemas sociais e
ambientais não podem ser analisados separadamente.
O aniversário da Encíclica mais verde da
história
Vaticano prepara o Sínodo da Amazônia para
discutir os desafios da região
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Terão outros temas além da Amazônia?
Além da Amazônia, serão discutidos outros
temas, como a liderança das mulheres nas comunidades cristãs, a falta de
padres, o diálogo com evangélicos e outros grupos religiosos.
Quais as críticas ao Sínodo?
Autoridades do governo federal brasileiro já
manifestaram preocupações sobre este Sínodo. O ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, admitiu que a
interferência de estrangeiros nas questões amazônicas incomoda a administração
do presidente Jair Bolsonaro.
Em nota publicada em fevereiro, em resposta
ao jornal "O Estado de S. Paulo", o GSI admitiu "preocupação
funcional com alguns pontos da pauta" do sínodo sobre a Amazônia.
"Parte dos temas do referido evento
tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional", diz
a nota. O GSI negou, no entanto, que a Igreja seja alvo de investigações da
inteligência.
Quais serão as conclusões do Sínodo?
A função do Sínodo dos Bispos não é propor
soluções técnicas. A ideia é apresentar princípios para que os envolvidos
busquem as soluções.
Segundo Dom Cláudio Hummes, o principal
"alvo" das propostas do Sínodo são os próprios participantes, líderes
da Igreja na região amazônica.
“Não vamos dizer ‘façam vocês’, mas sim o que
‘nós devemos fazer’ como Igreja missionária e aberta ao diálogo”, afirma.
De acordo com Dom Cláudio, quando as outras
partes envolvidas nos temas amazônicos não estiverem abertas ao diálogo
(governos e empresas internacionais, por exemplo), é função da Igreja
“denunciar os problemas e propor novos caminhos”.
Fonte: G1
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