O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
passará por uma série de mudanças nos próximos anos, entre elas, passará a
ser aplicado por computador e terá que ser reformulado para avaliar
estudantes de um novo modelo de ensino médio. Mesmo assim, de acordo com
especialistas entrevistados pela Agência Brasil, não perderá força, e
continuará sendo porta de entrada para o ensino superior do Brasil e
de universidades estrangeiras.
“Teremos mudanças estruturais, mas não vejo
dificuldade conceitual nessas mudanças. É questão de adaptação que, em breve,
todas as instituições estarão adaptadas à nova estrutura do ensino médio e como
consequência, ao exame”, diz o presidente da Associação Brasileira de Avaliação
Educacional (Abave) e integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE),
Joaquim Soares Neto.
“O Enem é um instrumento muito poderoso. A
juventude vê o Enem como excelente caminho em busca de vaga em instituição de
ensino superior no Brasil e no exterior”, complementa.
O ensino médio, deverá, de acordo com lei
promulgada em 2017, passar por mudanças. Os estudantes de todo o país passarão
a ter uma parte do conteúdo comum a todas as escolas e, parte que poderá ser
escolhida por eles. As escolas deverão ofertar itinerários formativos em
linguagens, ciências da natureza, ciências humanas, matemática e ensino
técnico.
O Enem terá então que ser reformulado para
melhor avaliar esses estudantes. “É ver como o Enem vai se adaptar à questão do
itinerário formativo isso tudo é desafio sim”, diz Neto. Algumas propostas
foram feitas em gestões anteriores, de que a prova avaliasse apenas a parte
comum do currículo ou mesmo que um dia avaliasse a parte comum e o outro, o
itinerário escolhido pelo estudante.
Ainda não há uma definição, mas há a
sinalização, por parte da atual gestão do Ministério da Educação (MEC), de que
haverá vários modelos de prova.
Mais questões
Segundo o vice-presidente da Abave e
professor da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (SP), Reynaldo
Fernandes, um dos desafios tanto para adequação ao novo ensino médio, quanto
para o Enem digital será ampliar o chamado Banco Nacional de Itens (BNI). O
banco reúne todas questões elaboradas e testadas para serem aplicadas no Enem.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
não revela quantas questões há nesse banco.
Segundo Fernandes, tanto para possibilitar a
elaboração de várias versões de prova quanto para viabilizar o Enem digital,
esse banco precisa crescer. “Precisava ter de 20 a 30 mil itens e, para
isso, precisava ter gente fazendo isso a todo tempo”, diz.
Fernandes presidia o Inep quando o Enem foi
reformulado, em 2009, para se tornar hoje porta de entrada para o ensino
superior. Até então, a prova criada em 1998 servia para avaliar o ensino médio.
“Acho que ninguém mais pensaria em voltar atrás”.
Para evitar fraudes e vazamentos, como o que
ocorreu em 2009, na primeira aplicação, e levou ao cancelamento e posterior
reagendamento da prova, Fernandes defende que é importante que cada aplicação
tenha vários modelos de prova. O sistema de elaboração e de correção da
prova, pela teoria de resposta ao item (TRI) faz com que as provas tenham
um mesmo nível e que os estudantes sejam avaliados da mesma forma.
Ele defende ainda que o Enem seja aplicado
mais de uma vez por ano. “O problema de fazer uma única prova é que se der qualquer
azar põe tudo num único dia para os estudantes. Essa é a grande mudança que
temos que fazer”, diz. A ideia vai ao encontro dos planos da atual gestão. O
governo pretende digitalizar integralmente o Enem até 2026 e, com isso,
aumentar o número de aplicações.
Usos do Enem
O Enem é hoje uma das principais formas de
ingresso no ensino superior. Todas as universidades federais do país usam o
Enem de alguma forma, seja como processo seletivo único, seja como uma das
formas de admissão. O exame cresceu também entre as universidades
privadas.
“O Enem é uma prova que coloca todos os
alunos na mesma régua”, diz a presidente da Associação Nacional das
Universidades Particulares (Anup), Elizabeth Guedes. A Anup reúne atualmente
247 instituições de ensino particulares associadas com mais de 2 milhões de
alunos de graduação.
“Os alunos com notas superiores no Enem
geralmente são aceitos com bolsas de estudos, muitas vezes integrais, e são
disputados pelas particulares. Porque a correlação entre um Enem alto e um aluno
proativo, inteligente, capacitado é muito relevante”.
Três a cada quatro estudantes que cursam o
ensino superior estão matriculados em instituições particulares, ou seja, essas
instituições concentram 75,3% das matrículas de todo o ensino superior.
Além das bolsas concedidas pelas próprias
instituições, Elizabeth destaca as bolsas ofertadas por meio do Programa
Universidade para Todos (ProUni), federal. A política, segundo ela, é
importante para a inclusão. “Alunos do Prouni são alunos de baixa renda. São
muitas vezes os primeiros a terem acesso a ensino superior nas suas
famílias”.
Enem 2019
No último domingo (3), 3,9 milhões de
estudantes fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação.
Neste domingo (10), os participantes fazem as provas de matemática e ciências
da natureza.
Fonte: Agência Brasil
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