Ex-presidente chamou Moro de
"canalha", criticou plano econômico de Paulo Guedes e exigiu solução
do assassinato de Marielle Franco
Um dia após ser solto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva falou novamente a militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e
simpatizantes do movimento “Lula Livre”. Do alto de um carro de som no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do
Campo (SP), discursou por 44 minutos, na tarde deste sábado (09/11/2019).
“Livre como um passarinho”, como ele mesmo disse, atacou o presidente Jair Bolsonaro,
o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a
quem chamou de “canalha”, e o ministro da Economia, Paulo Guedes,
“demolidor de sonhos e destruidor de empregos”.
Lula disse duvidar que Bolsonaro, Moro e o procurador Deltan Dallagnol “durmam com a consciência limpa”. “Democraticamente aceitamos o resultado da eleição. Esse cara tem um mandato de quatro anos. Mas foi eleito para governar o povo brasileiro e não para os milicianos do Rio de Janeiro”, disparou o petista.
“Ele tem que explicar onde está o Queiroz (Fabrício,
ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro). Como construiu patrimônio de 17
casas. Ele nunca fez discurso que preste. Tem que explicar por que apresentar
um projeto econômico que vai empobrecer a população brasileira”, continuou o
petista. O ex-presidente adiantou que pretende fazer outro pronunciamento em 20
dias.
“Anteontem vi os dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). O povo ficou mais pobre”, afirmou. “Não
tem ninguém que conserte esse país se vocês (povo) não quiserem consertar. Não
adianta ficar preocupado com ameaças, que vai ter AI-5 outra vez. Temos que ter a decisão de que esse
país tem 210 milhões de habitantes e não podemos permitir que milicianos acabem
com esse país que construímos. Eu não posso mais ver jovens inocentes sendo
mortos pela polícia. Precisamos saber definitivamente quem foi que matou nossa
guerra chamada Marielle (Franco), a grande vereadora do Rio de
Janeiro”.
Mesmo enumerando fortes críticas a Bolsonaro,
dizendo que “esse país não merece o governo que tem”, Lula advertiu o público
para não xingar o presidente. “Não merece um governo que manda os filhos
mentirem. A gente não tem que falar palavrão para o Bolsonaro. Ele já é o
palavrão. Temos que dizer em alto e bom som que não vamos permitir que destruam
o Brasil. Se trabalhar direitinho, a esquerda que o Bolsonaro tem medo vai
derrotá-lo em 2022. Ele convoca as organizações e a juventude para ir às ruas.
Esse jovem (de tesão de 20) vai estar nas ruas com vocês”, avisou.
Veja a integra do discurso:
Lula assume o microfone e começa a falar para seus apoiadores em cima do carro de som pic.twitter.com/FQfgZukIHL— Metrópoles (@Metropoles) November 9, 2019
“Contra a distribuição de armas do Bolsonaro,
vamos distribuir livros. Se as pessoas tiverem onde trabalhar, salário, onde
estudar, acesso à cultura, a violência vai cair. É esse país que queremos
construir. Eu estou disposto a voltar a percorrer este país. Quero construir
esse país com a mesma alegria de antes. Lutar para que o trabalhador possa ir
ao cinema, restaurante, ter carro, celular. Se reunir todo final de semana,
fazer um puta churrasco. Não é possível que a gente viva neste país de rico
ficando mais rico e pobre mais pobre”, disse Lula.
“Muitos de vocês não queriam que eu fosse
preso em abril do ano passado”, falou Lula, lembrando de quando se entregou à
PF, em abril de 2018. “Quando um ser humano, um homem, uma mulher, tem clareza
do que ele quer na vida, tem clareza do que representa, tem clareza de que seus
autores, seus algozes, seus acusadores estão mentindo. Tomei a decisão de ir lá
para a Polícia Federal. Poderia ter ido a uma embaixada, a um outro país. Mas
eu tomei a decisão de ir para lá. Porque eu preciso provar que o juiz Moro não
era juiz, era um canalha que estava me julgando”, assinalou.
Lula finalizou o discurso chamando a
militância de esquerda para se unir contra o governo. “Não sei qual a confusão
que vão arrumar, mas estou com tesão para brigar por este país. Nossos deputados
vão ter que virar leão naquele congresso. É atacar e não apenas se defender.
Podem contar comigo. A única coisa que não vou fazer na vida é trair a
confiança que vocês têm por mim”, encerrou o ex-presidente.
América Latina
Lula se mostrou informado sobre o que vem
acontecendo na América Latina. “Nós vemos o que está acontecendo no Chile. É um
modelo de país que o Guedes quer construir, fazendo com que pessoas velhas
morram porque não têm salário. Governo que é eleito não é eleito para destruir,
é eleito para governar”, discursou.
“Na Argentina, Alberto Fernández e Cristina
Kirchner derrotaram Macri e ganharam e eleição. Vocês viram o que está
acontecendo na Bolívia. Evo Morales é o companheiro que fez o melhor governo da
Bolívia desde que foi criada. Está crescendo 5% ao mês. O Evo Morales criou
política social para cuidar das mulheres. Nós temos que ser solidário ao povo
da Bolívia, do Chile, da Argentina. Trump que resolva os problemas dos
americanos e esqueça os latino-americanos”, falou.
Crítica à mídia
Ao falar sobre a Globo, Lula apontou para o alto. “Lá em cima está um
helicóptero da Rede Globo de televisão. Para falar merda outra vez, sobre Lula
e sobre nós”, atacou. Na cadeia, segundo o petista, só dava para assistir a
canais abertos de TV.
“A TV do Silvio Santos está uma vergonha. A
Record está uma vergonha. A Globo continua a mesma vergonha. Não colocou uma
matéria do Intercept (a Vaza Jato). A única matéria que ela fez foi para defender o
Faustão”, disse.
Em nota, a emissora carioca rebateu as
críticas do petista. “A Globo repudia os ataques do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. A prova de isenção da emissora é a transmissão do discurso que o
ex-presidente fez ontem e hoje. Também é prova de sua isenção ser alvo de
ataques dos extremos do espectro político hoje, tão radicalizado. A Globo faz
jornalismo sério e continuará a fazer. Sem se intimidar e sem jamais perder a
serenidade.”
Movimentação
Personalidades de esquerda como Gleisi Hoffmann
(PT-PR), deputada federal e presidente do PT, Fernando Haddad (PT), candidato à
presidência da República nas eleições 2018, Guilherme Boulos, presidenciável em
2018 pelo PSol, e o deputado federal Marcelo Freixo (PSol-RJ) acompanharam a
movimentação em São Bernardo do Campo.
Caravanas de diversos regiões do país
estiveram em São Bernardo do Campo. Militantes se reuniram desde a madrugada à
espera de Lula, solto no fim da tarde dessa sexta (08/11/2019) da carceragem da
Polícia Federal, em Curitiba.
Após ganhar liberdade, o petista discursou por cerca de 15 minutos. Fez
críticas ao presidente Jair Bolsonaro, ao Ministério Público e à Polícia
Federal.
Fonte: Metrópoles
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