Um artigo publicado nesta quarta-feira (6) na
revista científica Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes (JAIDS)
informou a descoberta de um novo tipo de vírus HIV, causador da Aids.
Descoberto por uma equipe da empresa de
equipamentos médicos Abbott, o subtipo pode ajudar a planejar futuros surtos e
novas formas de tratamento para os portadores. Isso marca a primeira vez que um
novo subtipo de HIV-1 é identificado desde 2000, quando as diretrizes para
classificar novas cepas do HIV foram estabelecidas.
O subtipo pertence ao grupo M do HIV, um dos
quatro grupos em que se subdivide o vírus —os outros são N, O e P— e o
responsável por mais de 90% dos casos de Aids no mundo. O organismo foi chamado
de "cepa L" e se une a outras dez cepas já catalogadas pela
comunidade científica. Já existiam suspeitas sobre a existência desse subtipo.
No entanto, era necessário que ele fosse identificado em pelo menos três
indivíduos para que pudesse ser classificado cientificamente.
Os especialistas que trabalham no caso
afirmam que a primeira amostra do subtipo L foi coletada entre os anos de 1983
e 1990, quando ainda não havia conhecimento o suficiente para o sequenciamento
de genomas. Na época, dois indivíduos da República Democrática do Congo, na África,
foram identificados como portadores.
A descoberta partiu de um programa da área de
saúde da Abbott que já dura 25 anos e que tem como objetivo monitorar o HIV e o
vírus da hepatite. Desde o começo da empreitada, a empresa coletou mais de 78
mil amostras de vírus e identificou mais de 5 mil subtipos distintos para
chegar ao resultado publicado nesta quarta.
"Identificar novos vírus como esse é
como procurar uma agulha no palheiro. Ao avançar nossas técnicas e usar a nova
geração de sequenciamento, puxamos essa agulha com um ímã", declarou Mary
Rodgers, uma das autoras do estudo, em comunicado oficial.
A NGS, sigla em inglês para a nova geração de
sequenciamento dita por Mary, é o conjunto de técnicas de sequenciamento
genético com melhorias em relação ao processo tradicional de sequenciamento,
chamado de Sanger e usado há mais de 40 anos.
Usando o NGS, um genoma humano inteiro pode
ser sequenciado em um dia, enquanto a tecnologia Sanger exige mais de uma
década para entregar o rascunho final.
Usando o NGS, um genoma humano inteiro pode
ser sequenciado em um dia, enquanto a tecnologia Sanger exige mais de uma
década para entregar o rascunho final.
Mais de 37 milhões de pessoas vivem com HIV
em todo o mundo. No Brasil, são quase 870 mil pessoas. Com a identificação
desse novo subtipo, os cientistas poderão agora acompanhar o seu funcionamento
dentro do organismo humano para, a partir disso, criar possíveis novos
medicamentos e vacinas para o tratamento e a erradicação do vírus.
Para repercutir a descoberta, a revista
Scientific American ouviu Jonah Sacha, professor do Instituto de Vacinas e Gene
Therapy da Oregon Health & Science University. Ele diz que o estudo serve
como um lembrete da diversidade perigosa do vírus HIV.
Isso nos diz que a
epidemia do HIV ainda está em andamento e ainda está evoluindo. O cartão de
visita do HIV é sua diversidade. Foi isso que derrotou todas as nossas
tentativas de criar uma vacina. As pessoas pensam que não é mais um problema, e
nós o temos sob controle. Mas, na verdade, não temos
Jonah
Sacha
No mesmo texto, Michael Worobey, chefe do
departamento de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Arizona, que
também não participou do estudo recente, diz que não é uma surpresa que haja um
número diversificado de cepas de HIV na África Central, e que identificar um
novo não adiciona muito ao que já sabemos do HIV.
"É realmente enganoso descrever a
diversidade genética do Congo como um novo subtipo, porque o único significado
útil do termo 'subtipo'" viria da identificação de uma linhagem do vírus
que se espalhou significativamente além da África Central", diz
Worobey.
Fonte: UOL
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