Manifestações deixaram 20 mortos e milhares
de feridos. Há relatos de homicídios, torturas, restrições ilegítimas e abuso
sexual. Sebastián Piñera diz que 'não tem nada a esconder'.
Um tribunal chileno acolheu uma ação movida
contra o presidente Sebastián Piñera por responsabilidade em supostos
crimes contra a humanidade que ocorreram durante os protestos
no Chile. As manifestações deixaram 20 mortos – cinco deles por ação
direta de agentes de Estado.
A ação foi movida contra o presidente pela
"responsabilidade que lhe cabe, como autor, como chefe de Estado e de
todos os que resultem responsáveis como autores, encobridores e/ou cúmplices de
crime contra a humanidade", destacou o documento apresentado em um
tribunal em Santiago por advogados representando organizações de direitos
humanos.
"Admite-se a tramitação da ação
interposta; remete-se ao Ministério Público", para que se inicie uma
investigação, indicou a resolução do juiz Patricio Álvarez, que iniciará agora
a tramitação da ação judicial.
Mulheres
vestidas de preto e usando curativos nos olhos participam de protesto em
solidariedade aos manifestantes que sofreram ferimentos nos olhos, em Santiago,
no Chile, na sexta-feira (1º) — Foto: Martin Bernetti/AFP
A ação afirma que a Polícia e os militares
cometeram pelo menos nove delitos – entre eles homicídios, torturas, restrições
ilegítimas e abuso sexual – desde sexta-feira, 18 de outubro,
quando o surto social começou e o presidente Piñera estabeleceu o estado
de emergência, no qual entregou o controle da segurança de Santiago e outras
cidades ao exército.
Os protestos deixaram 20 mortos, cinco
deles por ação direta de agentes do Estado. O Instituto Nacional de Direitos
Humanos contabilizou até esta quarta-feira 1.778 feridos e cerca de 5 mil
detidos.
Piñera: 'não há nada a esconder'
O
presidente do Chile, Sebastián Piñera, durante anúncio nesta quarta (6) de
medida que garante a renda mínima no país. — Foto: Javier Torres/AFP
Do lado do governo, o presidente Sebastián
Piñera garantiu que não há "nada a esconder" diante das
queixas de excessos na repressão policial que se multiplicaram nessas semanas.
"Estabelecemos
total transparência nos dados (sobre a violência policial), porque não temos
nada a esconder."
O Ministério Público informou que 14 policiais
serão acusados de "tortura" contra duas pessoas, uma delas menor de
idade, durante o estado de emergência decretado por Sebastián Piñera e em vigor
nos primeiros nove dias de protestos.
Manifestante
com mão pintada de vermelho para simbolizar mortes nos protestos do Chile em
bandeira durante protesto em Santiago neste domingo (27) — Foto: Esteban
Felix/AP Photo
O presidente disse que, com a mesma contundência,
serão punidos os manifestantes que causaram distúrbios violentos, saquearam e
danificaram mais de 70 estações de metrô no meio dos protestos, e que isso será
feito com "qualquer excesso que tenha sido cometido" no uso da força.
O Instituto Nacional de Direitos Humanos
(NHRI) entrou com 181 ações legais por homicídio, tortura e violência sexual
supostamente cometidas por policiais e militares. Enquanto isso, a Faculdade de
Medicina informou que foram registradas mais de cem lesões oculares em
manifestantes pelo uso de balas de borracha.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) anunciou que fará uma visita ao país, juntando-se à missão do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que já está no Chile.
Nesta quarta, várias organizações internacionais, incluindo a Organização
Mundial contra a Tortura, chegaram ao país para investigar as denúncias de
excessos na repressão aos protestos.
Fonte: G1
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