É o maior desastre ambiental registrado na
costa brasileira. As manchas de óleo que começaram a aparecer em setembro já se
espalham por nove estados e 2.200 quilômetros de litoral. Devastam a vida
marinha, ameaçam o sustento de pescadores e atingem paraísos ecológicos como a
Praia dos Carneiros, em Pernambuco, e a Praia do Forte, na Bahia.
Depois de quase dois meses, o poder público
ainda parece imóvel diante da tragédia. “O governo não sabe absolutamente nada.
Não conhece a origem do óleo, não tem ideia de como recolhê-lo e não apresenta
medidas para mitigar os danos”, afirma o presidente da Comissão de Meio
Ambiente do Senado, Fabiano Contarato (Rede-ES).
Na quinta-feira, ele comandou uma audiência
pública com representantes da Marinha e dos ministérios do Meio Ambiente e de
Minas e Energia. Ficou frustrado com a falta de informações e de planos de
ação. “Saímos com mais perguntas do que respostas”, resume.
Para o senador, o presidente tem se omitido
diante do caso. “Ele já deveria ter decretado estado de emergência ambiental há
muito tempo. Até hoje, ele nem sequer se dignou a visitar ou sobrevoar a
região”, critica.
Na sexta-feira, Jair Bolsonaro insinuou que o
vazamento teria sido uma “ação criminosa” para prejudicar o próximo leilão do
pré-sal. “Com base em que ele afirmou isso? É uma precipitação irresponsável.
Parece que o presidente tem mania de perseguição”, reage Contarato.
Ele diz que o fato de o óleo ter
características semelhantes ao extraído na Venezuela não resolve o enigma.
“Isso não quer dizer nada, porque os venezuelanos exportam para vários países”,
afirma.
O Ministério Público Federal acusa a União de
se omitir diante da gravidade do problema. Na sexta-feira, uma juíza de Sergipe
determinou que o Ibama aumente o número de funcionários envolvidos na limpeza
das praias. Em abril, Bolsonaro extinguiu dois comitês ligados ao plano de ação
contra vazamentos de óleo. Em outra frente, o governo tem reduzido
investimentos em preservação e fiscalização ambiental.
“O Brasil não aprende com as tragédias. O
desastre de Mariana vai fazer quatro anos. Não mudamos as leis e não reforçamos
a fiscalização. Pelo contrário: o país só enfraquece os órgãos de controle”,
diz Contarato. O senador vê um clima de indiferença sobre o assunto. “O país
não se mobiliza contra o desmonte dos órgãos ambientais. O mundo está
preocupado, mas nós não estamos”, observa.
O desinteresse também contamina o Senado. Na
quarta-feira, o presidente da Comissão de Meio Ambiente precisou cancelar a
sessão porque nenhum dos 34 colegas marcou presença. No dia seguinte, a
audiência sobre o vazamento de óleo teve poucas testemunhas. Dos 27 senadores
do Nordeste, só quatro deram as caras.
“O Legislativo também está sendo omisso e
conivente”, diz Comparato, que se licenciou do cargo de delegado de polícia
para assumir o primeiro mandato eletivo. “Quando ocorre uma tragédia, os
políticos querem aparecer. Na hora de discutir o que fazer, a maioria some”,
protesta.
Escrito por: Bernardo Mello Franco
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