A família Bolsonaro tem método. Enquanto o
pai insufla seguidores contra as instituições, os filhos fazem ameaças
explícitas à democracia.
Ontem o deputado Eduardo Bolsonaro sugeriu a
edição de um “novo AI-5”. Apontado como o futuro chefe do clã, ele já havia
ameaçado enviar “um soldado e um cabo” para fechar o Supremo.
O AI-5 original foi editado pela ditadura
militar em 1968. Suspendeu direitos individuais, instituiu a censura prévia e
autorizou o presidente a fechar o Congresso. O ato deu sinal verde para a
tortura e a morte de opositores. Significou o endurecimento do regime, cultuado
até hoje pelo inquilino do Planalto.
Na época, os militares alegavam que era
preciso combater “processos subversivos” e “fatores perturbadores da ordem”. A
Guerra Fria acabou, mas Bolsonaro busca o mesmo pretexto ao estimular teorias
conspiratórias e insinuar que “inimigos internos” não o deixam governar.
Na entrevista a Leda Nagle, que já apresentou
um programa chamado “Sem Censura”, Eduardo alegou o risco de uma radicalização
de esquerda. Mas quem radicaliza no país é a extrema direita, que chegou ao
poder pelas urnas sob a liderança do capitão.
A nova polêmica segue um roteiro conhecido.
Em setembro, o vereador Carlos Bolsonaro já havia escrito que a “transformação
que o Brasil quer” não aconteceria por “vias democráticas”.
O comportamento da família mostra uma divisão
de tarefas, em que os filhos se revezam no papel de incendiários. Quando a
provocação repercute mal, o pai se fantasia de bombeiro e finge adverti-los.
A cada afronta, o clã testa a resistência da
democracia e prepara o próximo avanço. É uma estratégia de aproximações
sucessivas, como prescrevem os manuais militares.
Os Bolsonaro estão unidos no mesmo projeto
autoritário, que busca remover limites ao poder do Executivo. O jogo pode
parecer confuso, mas é combinado. Ontem o presidente disse lamentar as
declarações do Zero Três a favor do AI-5. Quando o ato fez 40 anos, ele subiu à
tribuna da Câmara para louvá-lo.
Escrito por: Bernardo Mello Franco
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